terça-feira, 13 de julho de 2010

Em memória de Janis Louis

Desde menino, ouvi uma profecia de meu pai:
“O Brasil é o pais do futuro, seremos livres!”
Passaram-se os anos e a tirania reinava entre nós
Meus cabelos alongaram e a barba também,
Pensei, fumei, me revoltei e curti rock, na praça central.
Janis veio de pau de arará para o meio do furacão,
Conheceu o medo e escolheu irmãos,
Amou, formou-se em letras e lutou ao lado dos vermelhos,
Nem éramos tão vermelhos assim, apenas “não a ditadura!”
Janis perdeu a virgindade em um galpão militar,
Soldados armados de quepe na mão, e coletes no chão,
Dezessete anos, a menina adorável estendida na poça de sangue,
Encontrei a verdade em seus olhos imóveis,
Salvara-me; meu abraço de guerrilheiro mórbido não mais a aquecia.
Talvez a luta seja em vão, talvez soubesse disso, mas eu não desistiria, não agora!
Fim dos anos 80, o rosto da vitoria estampado em nossas caras,
Um sorriso de gloria, talvez o futuro tenha chegado a nós!
Tenho 43 anos hoje, cabelos agora brancos predominam na figura pacata,
Jaqueta de couro e all-star ficaram no passado, junto com as ideologias esquecidas,
Dias passam e meu terno é vestimenta freqüente, cabelo pro lado e socialmente sã.
Nada mais de drogas, sexo e rock’n’roll, tatuagens, socialismo ou sonhos,
Hoje, o sol brilha inofensivo, sou o dono do meu mundo,
Dinheiro rege as coisas, Janis está morta a vinte anos, mas eu ainda a sinto,
Mesmo deitado com minha mulher, seu olhar azulado e cabelos loiros encaracolados,
Ainda parece está ali a me indagar: “como você podi deixar tudo ficar assim?”,
Nossa liberdade foi jogada, aos mais novos como bem comum,
E eles estilhaçaram a utopia, devoraram os sonhos que lutamos,
Somos passado, querida, já não sei gritar, já não pinto a cara, já não sonho mais!
Antes de te encontrar novamente, queria deixa essa homenagem a nós,
Mas creio que não lutamos o suficiente, ainda não estamos livres,
Somos prisioneiros culturais, grades no lar, prisão cinza e edificada.
Não fumo há anos, câncer de pulmão, você sabe que não, mas foi esse o motivo,
Virei cafona, brega, meu filho escuta bobagens teen e eu Led Zeppelin,
Sem preconceito, Janis, mas onde estão os gritos, sou mudo;
Estou hoje com meu velho all-star, com seu livro favorito e bebo em nossa memória,
Ao som do mar, o sol ao longo do céu, e os fantasmas passam correndo na calçada,
Acostumaram-se a tudo isso, eu acho que sou um deles agora, porem já estou de partida,
Mas eu quero ganhar o mar, o seu sonho sempre foi poder nadar no mar,
Vou largar esse caderno e pular, será o nosso mergulho, sempre de cabeça, baby;
Todos ficarão bem sem mim, mas eu nunca encararia todos outra vez.
A guerra te trouxe a mim o mar me levará a você.
“O amor sem fim, é eterno, na morte!”

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